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E se a gente não tiver tempo para sentir?

Updated: Jul 15

Escrevi esse texto há algum tempo, depois de uma sessão de terapia em que percebi o quanto eu estava negligenciando algo essencial: o sentir.


Foto tirada por mim em algum lugar das Montanhas Asturianas - Caminho de Santiago Primitivo - Maio 2025
Foto tirada por mim em algum lugar das Montanhas Asturianas - Caminho de Santiago Primitivo - Maio 2025

Burnout, ansiedade, depressão, doenças relacionadas ao estresse e tantos outros desafios do século 21 se tornaram palavras da moda ultimamente.

E acho justo assumir que, independente do seu trabalho ou do mercado em que está inserido, todos nós estamos sobrecarregadas e tentando lidar com isso da melhor maneira possível.

Toda vez que paro para pensar sobre como estamos vivendo nossas vidas — presos às telas e deixando os melhores anos da nossa existência serem consumidos por estresse e trabalho, com pouco tempo livre para conexões significativas e momentos de alegria — eu fico profundamente triste, mas em poucos segundos já esqueci esse pensamento porque uma nova notificação apareceu no meu celular ou laptop.

Talvez seja algo que só aconteça comigo, embora eu duvide muito.

Aí vem a urgência de encontrar o equilíbrio entre vida e trabalho para ter uma vida boa.

Mas não é um equilíbrio tão difícil de alcançar?

Continuo ouvindo palestrantes motivacionais e CEOs famosos fazendo discursos sobre reservar tempo para você e sua família, tirar um tempo para recarregar e por aí vai.

Mas não consigo deixar de pensar: e se você não tem esse privilégio? E se você não pode fazer uma pausa durante o dia para uma caminhada porque o seu projeto está prestes a ser entregue e você não tem certeza se seu emprego está seguro? Então, você não vai fazer essa caminhada e, muito provavelmente, vai fazer hora extra.

E se, mesmo que consiga esse tempo, tem tantas outras coisas para fazer em casa ou para a família que, quando consegue respirar, o dia já acabou?

Nos últimos três anos perdi muitas pessoas (por covid, outras doenças, acidentes aleatórios) e um dia, durante uma sessão de terapia, apenas mencionei para minha terapeuta: “— então essa, essa e aquela pessoa morreram, e depois eu fiz isso e aquilo.” … como se fosse uma lista de supermercado. E então ela me interrompeu e disse:


“— Ei, respira. Vamos voltar a todos esses lutos que você não está dando espaço e tempo para sentir.”

E não é que eu não tenha sentido a perda — acredite, eu senti e ainda sinto — mas nunca tive tempo para ouvir minha dor, para parar e avaliar como a ausência dessas pessoas incríveis afeta minha vida.

E não é porque eu não queria sentir. É só porque eu não tive tempo.

Muitas vezes, não temos tempo.

E aí alguém pode dizer: “mas você poderia ter tirado uma licença do trabalho.”

Onde moro, o tempo permitido por lei para afastamento por luto é de 5 dias se você perde um parente direto. E sei que em alguns lugares as pessoas nem isso têm.

Mas 5 dias? Sério mesmo que achamos que em 5 dias dá pra processar a ideia de nunca mais ver meu pai? Ou abraçar minha melhor amiga?

Mas, de novo, a gente precisa trabalhar. E isso é um fato.

Certo então, esse não era para ser um texto triste. O que eu queria mesmo era compartilhar algumas coisas práticas e gratuitas que me ajudam a lidar com a vida. Aceitei que muitas coisas não podem ser mudadas, mas com o pouco tempo que tenho aqui e ali, quero tirar o melhor proveito possível.


Foto tirada por mim em Townley Hall Woods enquanto caminhava o Boyne Valley Camino em Drogheda - Irlanda - Outubro 2024
Foto tirada por mim em Townley Hall Woods enquanto caminhava o Boyne Valley Camino em Drogheda - Irlanda - Outubro 2024

Então vamos começar pela prioridade número um: o Self.

Isso mesmo, não são seus filhos, não é seu parceiro(a), não são seus pais ou irmãos. O primeiro item a ser priorizado é você.

Quando acordar, logo após desligar o alarme, não pegue o celular ainda, primeiro agradeça por ter acordado mais uma vez, depois preste atenção para onde sua mente vai primeiro. Pode ser uma memória do sonho que acabou de ter, ou algo importante que precisa fazer naquele dia. Não julgue, não aja ainda, apenas observe. Deixe um caderno ou bloco de notas ao lado da cama, caso sinta vontade de escrever.

Se esse for o único tempo que teve para você mesma, tudo bem. Pelo menos teve esse tempo.

Agora, se você for privilegiada e durante o dia encontrar outro momento — qualquer 5, 10, 30 minutos que tenha — olhe para si, faça um inventário, escaneie seu corpo em busca de tensão, dor, qualquer coisa que esteja incomodando. Se você for como eu e sentir ombros e costas travados, aqui vão algumas sugestões:

  • deite no chão por alguns minutos, fazendo um esforço consciente para alongar seu corpo

  • procure no YouTube uma aula rápida de Pilates, yoga ou alongamento. Ou, se preferir algo mais acelerado, pode buscar aulas curtas de cardio ou HIIT

  • levante da cadeira, ande pela casa ou até saia para uma caminhada rápida

Eu posso, e a ciência também pode, garantir que você vai se sentir melhor depois de dedicar um pouco de atenção ao seu corpo.

Com o tempo, você nem vai mais precisar parar para perceber o desconforto — vai se conhecer tão bem que vai sentir esses sinais como um hábito, e vai dizer a si mesma: “ei, hora de cuidar de mim!”


Outra coisa que eu faço — não tanto quanto deveria — mas, quando tenho energia, é dar atenção aos meus hobbies.

Tenho alguns: escrever esses textos para compartilhar pensamentos aleatórios que talvez ajudem alguém, cantar (entro no YouTube, digito o nome da música + a palavra karaoke), pintar com tinta ou lápis de cor, ler um livro sentada num parque…

Encontre o que funciona para você, o que ajuda a desligar o cérebro do trabalho ou das tarefas da casa.


Certo, agora que cuidamos do “eu” de forma individual, aqui vão algumas dicas para continuar cuidando de si, mas em contexto de comunidade.

A evolução nos ensina que os seres humanos são feitos para a conexão — não existe ser humano que possa ser feliz totalmente sozinho.

Quando estamos com outras pessoas, especialmente com quem gostamos, nosso cérebro libera tantos hormônios do bem-estar que, só isso, já é como recarregar uma bateria.

Então faça um esforço para separar um tempo para alguém — ou para um grupo — que seja seu. Converse, ria, dance, cante, reze, o que fizer sentido para você.

Crie tempo para isso.

Costumo dizer para amigos, quando ficamos muito tempo sem nos falar:“Se a gente deixar, a vida passa e a gente nem percebe.”

Vou contar um segredo: eu tenho lembretes no celular para checar como estão meus amigos.

Se eu não fizer isso, eu não lembro. Pode parecer frio, mas gosto de pensar que o fato de eu me importar o suficiente para colocar esse lembrete diz algo sobre o meu amor por eles.


Bem, espero de coração que essas dicas práticas ajudem alguém.Se uma pessoa ler isso e sentir que valeu a pena, meu objetivo está alcançado.


Obrigada por ler.

Cuide-se.


Andressa.


 
 
 

1 Comment


Andressa você tem um dom genuíno para “sentir”. ❤️

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